quinta-feira, outubro 16, 2008

"O que a Bíblia realmente diz sobre a homossexualidade"


Livro do Padre Daniel A. Helminiaki ( Edições GLS)

O que a Bíblia diz sobre Homossexualidade"
O título do tópico que escolhi é o título de um livro publicado pela Edições GLS com o nome: " O que a Bíblia REALMENTE diz sobre Homossexualidade".
Eu retirei a palavra "realmente" do título pois não dava para escrever tudo e quis já deixar uma idéia ampla do que se tratava este tópico.
O livro foi escrito pelo padre Daniel A. Helminiak que desde 1977 atua junto às comunidades gay e lésbica de Boston, San Antonio e Austin nos EUA.
Devo dizer que estou lendo este livro devagar a cada página me sinto inebriada com a coerência, bom senso e amorosidade deste sacerdote ao explanar sobre um tema tão envolvido em tabus e dogmas, falácias e má-fé dos que se utilizam de um livro do naipe da bíblia para tentar corroborar o seu ódio, preconceito de raça, cor, gênero e crença.Quero aqui salientar que desejo sinceramente que a pessoa que ler as citações, observações e impressões da obra que farei adiante e sentir-se tocada, procure ler a obra em sua íntegra. É um livro pequeno. Pouco mais do que 140 páginas e o autor salienta que é uma condensação de muito estudo religioso, científico e filosófico seu e de diversos autores, tendo sido concebido para ser uma obra pequena e de linguagem simples.

Da Interpretação literal da bíblia

Na nota introdutória do livro, o reverendo Johr S. Spong, bispo da diocese de Newark da Igreja Episcopal, salienta, entre outras coisas que se ele tivesse interpretado os escritos bíblicos de forma literal, ao pé da letra devido à sua educação cristã fundamentalista, mesmo assim teria há muito tempo teria considerado a bíblia como um livro religioso antigo irremediavelmente ignorante e preconceituoso ou se tornado um fanático religioso de mentalidade estreita que tentaria utilizar os escritos bíblicos para justificar seus preconceitos.O reverendo John S. Spong argumenta ainda que se fosse correto interpretar a bíblia de forma literal, seria correto o uso dela para condenar Copérnico por afirmar que o sol não ocupava o centro do universo; Galileu com sua afirmação de que o sol não girava em torno da terra e as idéias de Isaac Newton seria consideradas, sob a avaliação bíblica, como magia sobrenatural.Também, na história humana, utilizou-se o texto da bíblia "para justificar o tratamento mais desumano dado a outros seres humanos - a instituição da escravidão" ou utilizados para disseminar o "preconceito virulento" e "condenar, oprimir e marginalizar os filhos de Deus que são gays e lésbicas"...

Homossexualidade na visão bíblica:
" A bíblia trata deste tema de um modo bastante diverso, e em um mundo totalmente diferente do nosso"...
Ou seja, estamos a milênios além de boa parte do período descrito na bíblia e tal lapso temporal exorbitante e o contexto onde se enquadram os personagens alí descritos devem ser considerados quando se deseja interpretá-la.
E O INTERESSANTE é que o padre Daniel Helminiaki afirma categoricamente, ainda na parte introdutória de seu livro que: " A bíblia é indiferente à homossexualidade enquanto tal . Da mesma forma que com a heterossexualidade, a bíblia só se preocupa quando suas práticas violam outros preceitos morais.
Neste ponto, devo fazer um comentário de ordem pessoal. Fui criada em uma instituição religiosa protestante e desde os treze anos fazia o tal "ano bíblico" que consistia em ler uma vêz a bíblia a cada ano. Li pelo menos cinco vezes e em MOMENTO ALGUM me recordo hoje de ter lido algo como uma condenação direta ou mesmo explícita, sem deixar margem a outra interpretação de que a prática da homossexualidade seria pecaminosa!

Das "práticas que violam preceitos morais"
Neste ponto, interpreto o texto do autor de um modo, por exemplo: práticas amorais e exorbitantes da sexualidade: promiscuidade, excessos, práticas de sexo não consentido (estupro ou atentado violento ao pudor), taras, pedofilia e outras condutas consideradas criminosas, tanto no meio heterossexual ou homossexual.

Da intenção do autor ao escrever o livro
" ... apresento este pequeno livro. Meu compromisso com o bem comum me leva a isto. "" Minha esperança é a de poder ajudar a dissolver a força da religião IMPENSADA e do PRECONCEITO e a de colaborar para um mundo onde haja mais COMPAIXÃO, AMOR E JUSTIÇA" (grifo meu).


Dos objetivos que o autor espera alcançar...
"...Pessoas gays e lésbicas condenadas com base em citações bíblicas precisam ser capazes de responder de forma inteligente, conscientes de que não estão rejeitando a palavra de Deus".

Do pensamento de Daniel A. Helminiaki
"Enquanto católico romano (...) e enquanto pessoa que pensa - não pressuponho que a Bíblia forneça a última palavra sobre ética sexual". (pag. 15)
" E todas as opiniões, religiosas ou não, devem apoiar-se em fatos." (pag. 16)"Para mim, O FATO é que a Bíblia NÃO FORNECE QUALQUER BASE REAL PARA A CONDENAÇÃO DA HOMOSSEXUALIDADE" (grifo meu). (pag. 16)
--------------------------------------------------------------------------------------------------------Neste ponto darei pausa às postagens aqui para comentários e mais adiante, entrarei nos argumentos angariados nos estudos de Daniel Helminiaki e outros estudiosos de grande credibilidade.Devo dizer que até hoje, este trabalho é o mais claro, amoroso, benigno e sensato apanhado de pensamentos, afirmações, interpretação e estudo que encontrei que de alguma forma falasse ao coração de alguém que teve a sua formação com a grande carga teológica imposta pela religião dos meus pais.
Vejo verossimilhança e boas intenções permeadas em toda a obra de Daniel A. Helminiaki.Pelo momento, deixo aqui o e-mail e site das edições GLS:
gls@ edgls.com.br
http://www.edgls.com.br








sexta-feira, julho 11, 2008

Bettine Von Arnin e Caroline Gunderode

Elisabeth Magdalena Catharina Ludovica Brentano, conhecida como Bettine von Arnim, foi uma escritora alemã, importante representante do romantismo. Em 1805, esta jovem escritora alemã correspondia-se com Caroline Gunderode, nascida como Maximiliane de Friederike Caroline Louise Günderrode, poetisa, e uma das mais enigmáticas figuras do romantismo alemão. Bettine escrevia a Caroline, uma mulher com mais 8 ou 10 anos do que ela:







‘Se não existisses, o que seria o mundo para mim? Sou como morta se não me pedires que me levante e viva continuamente contigo. Tenho a certeza que a minha vida acorda apenas quando me chamas e que a minha vida morrerá se não puder continuar a crescer em ti. Sim, sei, a minha vida é insegura; sem o teu amor, no qual está plantada, a minha vida nunca florirá.’

Caroline correspondia à sua paixão e necessidade, declarando: 'Tu és o meu raio de sol que me aquece, enquanto que em todo o outro lado a geada cai sobre mim.'

A correspondência volumosa entre estas duas mulheres sugere um caso amoroso de grande paixão, no qual elas ofereceram uma à outra não apenas um afeto intenso, mas também apoio emocional e estímulo intelectual. Como muitas outras mulheres do seu tempo, noutros países, Bettine e Caroline viam-se a si próprias como "amigas românticas".

Apesar da grandeza do seu amor, Bettine e Caroline não viveram juntas. Poucas eram as mulheres que o faziam nos princípios do século XIX, quando não havia praticamente oportunidade de auto-suficiência econômica para as mulheres de classe média e alta. Esperava-se destas que casassem ou que entrassem para um convento ou outro retiro feminino semelhante. Caroline Gunderode, filha de uma viúva com vários outros filhos, escolheu este último caminho, tornando-se cônega da sua ordem religiosa.

As duas mulheres poderiam, é claro, ter fugido juntas como tinham feito na geração anterior na Inglaterra duas lésbicas, Sarah Ponsonby e Eleanor Butler, as ‘Senhoras de Llangollen’, mas talvez não tenham podido, ou não tenham querido arriscar a fúria de amigos e família que as ‘Senhoras de Llangollen’ tiveram de suportar. Se Bettine e Caroline fossem das classes mais baixas, uma delas poderia ter envergado roupas de homem, e obtido trabalho manual sob esse disfarce, e as duas poderiam ter passado por marido e mulher.

Mas mudar de classe, no início do século 19, era ainda mais difícil do que mudar de gênero. Além disso, Bettine e Caroline poderiam ter tido conhecimento do caso de uma outra alemã, Catarina Margarethe Linck, queimada na fogueira em 1721 por ter tentado passar por homem e por ter casado com outra mulher. Mas apesar de não terem passado a vida juntas, a sua correspondência indica que, como muitas outras "amigas românticas" da época, foram amantes em todos os sentidos exceto talvez o carnal, é muito pouco provável que tivessem posto essa experiência por escrito, mesmo que a tivessem tido.

Para nós, já no século XXI, poderá parecer incrível que duas mulheres possam ter estado tão apaixonadas sem nunca terem referido a este amor enquanto lésbicas, ou o seu receio de serem descobertas, ou o significado político do seu envolvimento uma com a outra. Contudo, tal falta de percepção era possível antes do advento dos sexólogos em finais do século XIX, quando informaram o mundo da existência de enormes quantidades de mulheres que amavam outras mulheres, de maneiras que ultrapassavam o afeto entre irmãs e que semelhante amor era mórbido.

(do livro ‘Lesbians in Germany’
de Lillian Faderman e Brigitte Eriksson)

terça-feira, fevereiro 05, 2008

TENDRESSE

(fotografia de David Hamilton)

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Infidelidade

Faz tempo que não posto, eu sei. Fim de ano, festas, muita coisa acontecendo. Muitas boas e outras, nem tanto. Mas sempre renova a esperança, o otimismo em meu coração a cada ano que se passa.

Encontrei este texto sobre fidelidade e achei muito bem escrito, fundamentado e interessante.
É de uma garota portuguesa, portanto, há alguns termos e expressões utilizados somente por lá, mas dá para compreender a leitura.

O blog em que ela escreve chama-se "Tempus Blogandi". Muito bonito e interessante.
Tem até música de fundo (Lakme de Delibes). Bom gosto na escolha.



Terça-feira, Dezembro 04, 2007

Infidelidade e adultério

O que é a infidelidade e quando começa? No pensamento? Na cama? Ou palavras que se dizem e que se escrevem? Onde está a vossa bitola? Estaria eu, acima ou abaixo dessa fasquia? E é mais justificável nos homens do que nas mulheres?

Por natureza, os seres humanos não são monogâmicos. Foi, primeiramente, a sociedade ocidental formada sob a égide da mitologia judaico-cristã e consequentemente patriarcal que nos “convenceu” que o somos. Em tempos de grande obscurantismo, não só nos convenceu, como nos obrigou, pois o adultério chegou a ser punido com a pena de morte. Em certos países, o adultério feminino ainda é punido com a pena de morte.

A sociedade instituiu o casamento para garantir a posse material e a hereditariedade. Ora, até há bem pouco tempo, antes de ser conhecida a importância do DNA, qualquer criança saída do ventre de uma mulher era seu filho. Enquanto que um homem nunca tinha a certeza de que a criança era seu filho. Daí que a imposição de fidelidade sexual fosse muito mais exigível à mulher que ao homem. Por outro lado, esta mesma sociedade foi e ainda é extremamente cruel para com o homem “enganado”, pondo em causa a sua masculinidade e sujeitando-o a humilhação com consequências psicológicas que podem ser muito traumáticas. Daqui aos crimes de sangue foi um passo. Ainda hoje, em países de que Portugal é um triste exemplo, o adultério feminino ou a desconfiança da sua existência, levam um número muito grande de homens a punir a companheira assassinando-a. Limpam a sua honra com o sangue da “sem vergonha”. E, as decisões proteccionistas dos tribunais relativamente a estes crimes e outros praticados por homens, vieram ajudar à sua disseminação. Lembro-me de um acórdão de 1989 em que os juízes confirmaram a condenação a apenas quatro anos de prisão de um arguido de violação e sequestro de duas mulheres Iugoslavas. Os juízes fizeram questão de escrever: “Se é certo que se tratam de crimes repugnantes que não têm qualquer justificação, a verdade é que, no caso concreto, as duas ofendidas muito contribuíram para a sua realização. As duas ofendidas, raparigas novas, mas mulheres feitas, não hesitaram em vir para a estrada pedir boleia (carona) a quem passava, em plena coutada (território) do chamado ‘Macho Ibérico’ (homem português ou espanhol).

A fidelidade é uma criação de uma sociedade fechada, obscura e ignorante que impunha aos respectivos povos mitos que, consoante a sua conveniência, ia inventando com o intuito de lhes causar um extremo temor divino representado na terra por uma igreja sequiosa de poder e riqueza.

Ora, ainda hoje nas sociedades onde as igrejas ou filosofias religiosas têm grande influência, é notória a rigidez posicional no que respeita a actividades sexuais, principalmente da parte de mulheres casadas ou amancebadas(que mantém uma união estável ou mesmo, ou "amigadas" como se diz aqui no Brasil) fora dos seus relacionamentos. Nalguns países essa rigidez é notória até para com as mulheres solteiras.

A revolução sexual dos anos 60 não chegou a Portugal... (Retirei este parágrafo pois entendi que trata de assuntos muito específicos de Portugal mas o texto completo pode ser lido no link do blog, acima) .

Nos anos 80 quando se começava a tentar recuperar do atraso no que respeitava a uma revolução sexual, surgiu o HIV e logo apareceram alguns cavaleiros do apocalipse a anunciar que era castigo divino e que os homossexuais e adúlteros(as) eram proscritos. O retrocesso foi uma realidade.

Hoje, dada a continuidade da influência de uma igreja tradicional que retrocede perante a mudança, continuamos timidamente a tentar sair da ignorância e provincianismo que ao longo de centenas de anos nos tem assolado. Para a mudança de mentalidades, de pouco nos tem valido uma pseudo-democracia com mais de 30 anos cujo leme tem sido guiado por incompetentes "navegadores".

Teoricamente, a infidelidade é o não cumprimento de um compromisso de fidelidade. A infidelidade começa quando alguém dirige os seus pensamentos sentimentais ou desejos sexuais para alguém que não é o seu cônjuge ou companheiro(a). As palavras sentimentais ou sensuais dirigidas também a alguém que não é o(a) companheiro(a) ou cônjuge, surgem dos pensamentos, logo, há infidelidade quando são proferidas ou escritas.

Quando se passa dos pensamentos e palavras à acção, estamos perante o chamado adultério.

Somos todos infiéis, homens e mulheres e, se nem todos cometemos adultério é porque nos faltou oportunidade. E esta oportunidade assume várias formas: receios de cariz (fundo) religioso, medo de ser apanhado na curva(pulando cerca) e consequente perda, não desejada, do(a) companheiro(a) com quem se tem partilhado a vida, temor de ser um proscrito socialmente falando, educação, diferença de idades, razões logísticas, falta de dinheiro, falta de interesse da pessoa que se deseja, etc., etc.

A infidelidade e/ou adultério quando é do conhecimento do outro causa-lhe dor? Claro que causa! Basta dizer que o outro foi atingido no seu orgulho e/ou ego e pode, ainda, temer a perda da pessoa que ama. Mas, é a vigilância sobre o outro que evitará a infidelidade? Não, porque já todos fomos, somos e seremos alvo de infidelidades e todos fomos, somos e seremos infiéis. E evitará o adultério? Também não! Então, porque nos haveremos de comportar de uma forma tão estúpida com atitudes de posse, ciúme e violência que destroem uma relação mais do que a infidelidade e mesmo o adultério quando passageiros?

Quando perceberemos que a liberdade responsabiliza?

São muitos anos de uma cultura que está profundamente enraizada dentro de nós e é muito difícil libertarmo-nos. É um facto! Mas começa a ser altura de mudarmos certos valores que só nos têm tornado infelizes porque não são, na sua génese, naturais visto as pessoas não serem objecto de posse seja de quem for. Haja, ao menos, alguma razoabilidade!

(Assinado: Duca)