Saudade
Voltando o olhar para a bela Lion, o pensamento escapou para o Brasil, imaginando a luz dourada intensa do sol na sua pele enquanto ela pedia um copo de caldo de cana ao velho senhor que possuía um engenho de moer cana instalado dentro de uma Kombi, cinco quadras antes do Distrito Policial.Ele oferecia um copo de caldo e sempre havia quatro dedos de “chorinho”, na faixa.
Com os anos e a concorrência, ele aprimorara seu caldo com direito a abacaxi, limão ou gengibre. Dava até para pedir com tudo dentro.
A Delegada sentia falta das ruas molduradas pelos fios negros da instalação elétrica que pareciam teias, onde pipas velhas ou suas rabiolas apontavam a alegria da infância em férias ou tênis gastos presos ali pelos cadarços por obra de algum peralta.
As esquinas de bares com o trecho de asfalto cravejado com tampas de garrafas, letreiro mal feito encomendado ao filho de um vizinho anunciando o preço bom da “cerva”.
Tão logo retornasse ao Brasil ela se imaginava entrando em um “boteco” em São Paulo para tomar uma cerveja gelada acompanhada de uma porçãozinha de amendoim ou mandioca frita. Provavelmente em um daqueles bares de portas estreitas, alongados para dentro com balcões ensebados. O dono, quase invariavelmente de bigode bem cultivado, barba por fazer, camiseta regata branca encardida, pescando azeitonas ou ovos de dentro de enormes potes de conservas para servir o cliente da vez.
Em meio a tanta limpeza nas ruas de Lion, monumentos, os edifícios de estilo neoclássico com as charmosas mansardas e suas janelas, entre toda beleza que podia avistar naquela cidade francesa, com a saudade, até a lembrança do odor do “espetinho de gato” ou do “churrasco grego” servido pelas ruas de Sampa - que ela nunca tolerou - pareceram convidativos.
'espeto de gato convidativo?' –Giuliana pensou, quase sorrindo. O que não fazia a saudade crua?
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